ChatGPT: revolução ou evolução? Por Maurício Fernandes*
Há alguns anos o mundo procura a “próxima grande coisa” ou a Next Big Thing, como os americanos chamam, “a próxima descoberta”, “o próximo produto”, “a próxima onda”.
Em um mundo com tanta inovação, as pessoas esperam que, no próximo minuto, surja algo que mude tudo definitivamente, mas nos últimos anos temos visto mais evoluções do que revoluções.
Encontrei uma lista de nove inovações candidatas a serem a “Next Big Thing”, em uma matéria da Startup Grind de 2016 e é interessante analisar em retrospectiva, pois estas listas são sempre proféticas, mas nem sempre acontecem. Ela vai de carros autônomos a foguetes reusáveis, passando por transformações que ainda não chegamos lá – e nem se sabe se um dia iremos -, como, por exemplo: a adoção rápida à energia renovável, a dessalinização da água e a evolução da “engenharia da imunidade humana”, algo que felizmente nos ajudou na pandemia.
Entretanto, quem encabeça esta lista é a Inteligência Artificial (IA), com uma visão meio profética, mas vaga — como profetas costumam ser — de que IA iria utilizar o conhecimento de cloud computing para encurtar o aprendizado de máquina. Isto nos leva a experiências como o ChatGPT, que sete anos depois desta lista, parece concretizar essa previsão.
O ChatGPT tem um acervo gigantesco da produção humana com artigos, textos, Wikipédia e afins, para construir conteúdos estruturados que explicam ao usuário o que ele quiser. Parece um oráculo, sabe tudo. Porém, na verdade, cuidado aqui, não sabe de nada. Ele tem acesso a dados, mas se estes estão certos ou errados não se julga, apenas se repete a informação. A curadoria, escolha do que convém ou não, é muitas vezes feita por nós, usuários. E, assim, vão se avolumando os casos infelizes ou anedóticos de respostas estranhas desta ferramenta.
Não estou aqui criticando o ChatGPT, mas, sim, a forma como o usamos. Ele fatalmente será utilizado, como já ocorre, mas o problema aqui é utilizá-lo sem o discernimento de que a informação, por si só, não é conhecimento e que ela não corresponde necessariamente à realidade. Assim, se não houver uma conscientização aliada a uma evolução desta tecnologia, corremos o risco de banalizar ainda mais o conhecimento, a cultura, a criação de textos e o raciocínio em si.
Sem dúvida o ChatGPT é uma democratização de tecnologias de IA enorme. Contudo, é uma evolução e não uma revolução, pelo menos por enquanto. Será a “Next Big Thing”? Veremos. Ou melhor, pergunte ao ChatGPT, ele deve achar que sabe a resposta.
*Maurício Fernandes é CEO da Dedalus