ChatGPT e a melhoria da interatividade em ferramentas de assistência de voz e chatbots, por Fábio Lopes*
Sempre gostei de filmes de ficção científica, eles me ajudam a refletir sobre spoilers do que poderemos ter ou usufruir num futuro próximo. Sabemos que a ficção cientifica, enquanto forma de arte, pode influenciar a realidade e inspirar avanços inovadores aos produtos e serviços que farão parte do nosso dia a dia.
Nessa vastidão de possibilidades, penso sempre no Holodeck, ambiente virtual fictício da famosa nave espacial Enterprise, na série Next Generation. Imagino-me entrando em uma sala que simula ambientes e pessoas, onde somos capazes de interagir com objetos e personagens, em diálogos e situações em que um software é o grande protagonista.
É evidente que muitas dessas inovações carecem de avanços científicos para se materializarem em nossas vidas. Contudo, aquilo que não depende de avanços na física ou na química está cada vez mais próximo do nosso cotidiano.
O software ganha espaço mostrando a capacidade que temos em produzir interatividade computacional, termo que pode ser entendido como a capacidade de interagirmos com computadores, por meio de uma interface, como o teclado, mouse, telas touchscreens etc.
Mais recentemente, nossas interações ganharam robustez com o avanço dos assistentes de voz, permitindo mais facilidade de comunicação com os chatbots, em muitos contextos de aplicação.
De certa forma, os assistentes de voz contribuíram para a popularização da inteligência artificial, pois a interação via fala gera interesse dos usuários, seja para descobrir os limites do software ou simplesmente para experienciar uma conversa informal com um interlocutor sintético.
Os modelos de linguagem natural estão se aperfeiçoando de modo a gerar uma experiência de usuário mais próxima do que o próprio termo sugere – “Linguagem Natural”. Queremos falar com o computador, mas sem achar que estamos, de fato, conversando com um computador. Essa questão nos faz compreender o grau de atenção que o ChatGPT (Generative Pretreined Transformer) tem despertado atualmente.
Além de todas as desconfianças e preocupações que o ChatGPT vem despertando nas pessoas, podemos olhar por outra perspectiva, mais positiva, que nos permite viver experiências análogas ao que já vimos em filmes de ficção científica. É interessante compartilhar a composição de um texto interagindo com “alguém” capaz de consultar milhões de páginas na internet e produzir uma síntese em segundos.
Enquanto escrevo esse texto, vivo a experiência de conversar paralelamente com o ChatGPT, fazendo algumas perguntas e avaliando suas respostas. Contudo, o fio norteador ainda é meu, bem como as decisões sobre o que adiciono ou não ao produto em desenvolvimento. Ou seja, a consciência é minha e as ferramentas me ajudam naquilo que produzo. Melhor ainda quando entramos em estado de fluxo, como diz a filosofia japonesa IKIGAI, focando no presente, fazendo com prazer, esquecendo que o tempo está passando.
Voltando ao Star Trek Next Generation, o personagem Data, vivido pelo ator Brent Spiner, poderia ser um exemplo no estado da arte, para onde vamos evoluir com essas tecnologias. Um androide que respondia a questionamentos e agia rapidamente em situações, mas não era capaz de ter sentimentos, fato esse que gerava um caráter de imparcialidade ao personagem. Data era capaz de reproduzir na íntegra uma obra para violino, mas não de impor sentimento próprio ao que estava tocando. Logo, não conseguia “criar”, ele apenas repetia o que já conhecia. Será que Data era/será um gerador de plágios?
A computação vem nos ajudando a performar de modo mais eficiente as nossas atividades em praticamente todas as áreas. A inteligência artificial é parte disso e amplia a capacidade de entregar resultados no contexto das nossas necessidades. Penso que o ChatGPT seja apenas mais um degrau de evolução tecnológica que vamos experienciar, para assim, dar mais um salto de inovação.
Consultei as atividades domésticas que o ChatGPT poderia nos auxiliar. Rapidamente, a resposta foi:
- Responder perguntas sobre assuntos gerais;
- Fornecer receitas e dicas culinárias;
- Fornecer dicas de saúde e bem-estar;
- Ajudar a planejar viagens e reservar transporte e acomodações;
- Fornecer informações sobre entretenimento (filmes, séries, músicas e livros);
- Fornecer informações sobre eventos e notícias atuais;
- Auxiliar na tradução de idiomas;
- Fornecer conselhos e sugestões para solução de problemas cotidianos.
No final da consulta, uma frase me chamou atenção: “é importante lembrar que, apesar de ser treinado com uma ampla variedade de informações, o ChatGPT pode não ter informações precisas ou atualizadas sobre determinados assuntos, especialmente se estiverem além do seu corte de conhecimento de 2021”. Portanto, voltamos ao que comentamos alguns parágrafos antes, continuo fazendo perguntas e avaliando respostas, utilizando o meu crivo, lapidado por meio de muitas experiências de vida.
No campo das hipóteses futuristas da inteligência artificial, a singularidade é um tema de intenso debate. O termo se relaciona à possibilidade de criarmos uma entidade computacional capaz de evoluir por si só, com consciência própria. Mas ainda estamos longe disso.
Fiz outra consulta ao ChatGPT sobre a possibilidade de comparar a inteligência artificial a comandos de treinamento que damos aos nossos queridos pets, os cachorros. A resposta foi um sim. A inteligência artificial e os cachorros aprendem por meio de estímulos e respostas, bem como o aperfeiçoamento dessa aprendizagem ao longo do tempo. Contudo, os cachorros são estimulados por recompensa, já a IA é subsidiada por dados armazenados e utiliza modelagem computacional para produzir resultados precisos.
Alicates e chaves de fenda sempre estiveram presentes na vida de muitas pessoas e facilitaram muitas tarefas ou ajudaram na solução de problemas do cotidiano. A inteligência artificial, personificada em assistentes de voz e chatbots, está caminhando no mesmo sentido, reduzindo o tempo de resposta, melhorando a qualidade do que fazemos e promovendo bem-estar em nossas vidas.
*Fábio Lopes é professor do Programa de Mestrado em Computação Aplicada da Faculdade de Computação e Informática (FCI) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)