Dados valem ouro. Como extrai-los sem gerar riscos? Por Cristiane Mirna Machado*
/ Não sei se todos, mas grande parte dos leitores desse artigo já ouviu falar sobre Serra Pelada, mina de ouro localizada no Estado do Pará que foi tão explorada (ou melhor, mal explorada) na década de 1980, quando a região foi invadida por milhares de pessoas em busca do enriquecimento rápido através do ouro. A área se tornou o maior garimpo a céu aberto do mundo e milhares de toneladas de ouro foram retiradas na expectativa de enriquecer os garimpeiros, o que, na prática, não aconteceu até o fechamento oficial da região em 1992.
Embora o metal continue sendo valorizado, o “ouro” de hoje tem outro nome: dados. Ao contrário do que ocorreu em Serra Pelada, esse só tende a crescer exponencialmente. De maneira geral, as empresas são data companies, ou seja, têm quantidade substancial de dados inexplorados, subutilizados e que, certamente, podem representar um grande valor financeiro para dentro da organização e para outras empresas. Ter a possibilidade de gerar um impacto positivo na receita do negócio por meio do uso desses dados é o que se chama de monetização dos dados.
Com a implementação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as empresas tiveram que se adequar às novas regras, de forma a resguardar informações sensíveis de seus clientes e, ao mesmo tempo, mostrar caminhos e gerar insights para os negócios. A princípio, temos duas formas de aumentar receita usando dados: monetização indireta ou direta. Mas qual a diferença e como funciona? Você pode gerar receita utilizando insights para aprimorar suas operações e serviços de negócios (indireto) ou criar um fluxo de receita suplementar oferecendo acesso aos seus dados (direto).
Independentemente do modelo, é possível impactar resultados financeiros sem que os dados nunca saiam de sua empresa. Agregar valor às suas próprias operações não significa “vender” informações para outra pessoa. No modelo indireto, as corporações podem colher insights sobre seu negócio e seus clientes para fazer mudanças que criem um impacto mensurável. Se não puder medir o impacto das ações realizadas com base em informações, a empresa não está monetizando seus próprios dados. Nesse momento, a criatividade e a mineração dos dados são cruciais para dar visibilidade a toda informação que possa direcionar para novas rotas, reduzir riscos, ampliar ações e criar confiança.
Considere “direto” como “converter diretamente em receita”. Sim, a empresa pode monetizar dados brutos se tiver grande quantidade deles e estiver disposta a navegar pela complexidade das políticas de privacidade e da burocracia, que varia de país para país. Mas a monetização direta de dados é muito mais ampla do que isso. Uma companhia pode dar acesso a outras empresas para selecionar segmentos de dados ou apenas alguns insights das análises.
A vantagem de monetizar diretamente os dados é poder utilizá-los como um ativo e criar um fluxo de receita. As aplicações são infinitas, mas é preciso ter em mente que a privacidade de dados é um assunto importante, uma vez que qualquer tipo de violação pode arruinar a reputação de uma marca. É necessário estruturar o ambiente para que essa nova mina de ouro traga muitos frutos, sem causar danos como ocorreu em Serra Pelada.
*Cristiane Mirna Machado é diretora de Produtos e Alianças da Scala, empresa do Grupo Stefanini