A revolução da inteligência artificial no setor financeiro
Especialista em governança corporativa comenta as mudanças reais que a IA já provoca em bancos e fintechs e aponta onde ainda há muito terreno a conquistar
Longe de ser apenas um recurso tecnológico, a inteligência artificial virou parte do dia a dia dos bancos e fintechs. Hoje, decisões que demoravam dias são tomadas em minutos; fraudes são barradas assim que surgem; e o atendimento ao cliente deixa de ser robotizado para se tornar mais humano.
Com investimento crescente em tecnologia, o setor financeiro brasileiro vive uma nova fase de inovação. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os investimentos em tecnologia do setor devem chegar a R$ 47,8 bilhões em 2025, sendo 61% destinados a soluções de IA, big data e analytics. Neste cenário, Marcello Marin, contador, administrador e Mestre em Governança Corporativa, avalia que a adoção da IA já está gerando impactos diretos em áreas como concessão de crédito, detecção de fraudes e relacionamento com o cliente.
“A inteligência artificial tem transformado o cenário ao automatizar processos e agilizar a análise de dados. Hoje, decisões que antes levavam dias são tomadas em poucos minutos, com base em informações muito mais completas. Isso gera ganhos que vão da concessão de crédito à gestão de investimentos. O impacto principal é claro: eficiência com inteligência – menos tempo com planilhas, mais foco em estratégia”, afirma o especialista.
E como isso afeta o consumidor?
No relacionamento com o consumidor, a IA também tem desempenhado papel fundamental. Ferramentas baseadas em linguagem natural, como os novos chatbots e assistentes inteligentes, já estão proporcionando interações mais rápidas, fluidas e personalizadas, com atuação 24 horas por dia e integração com sistemas bancários. “Os chatbots já não são apenas listas de perguntas e respostas. São canais de conversa fluidos, disponíveis o tempo todo. A análise preditiva consegue antecipar o que o cliente precisa antes mesmo que ele solicite. E tudo isso com escala. O resultado é mais personalização e menos filas de espera”, explica Marcello.
No campo da segurança, a tecnologia tem sido usada para identificar comportamentos atípicos e sinalizar fraudes em tempo real. Segundo estimativas da ClearSale, as fraudes digitais devem ultrapassar R$4,5 bilhões em prejuízos neste ano, impulsionadas principalmente por deepfakes e bots cada vez mais sofisticados. Para Marin, o uso de IA é fundamental para lidar com esse cenário. “A inteligência artificial é capaz de identificar padrões que escapam à percepção humana. Ela detecta comportamentos fora da curva em tempo real, como uma compra incomum ou um acesso de IP diferente – e imediatamente bloqueia ou sinaliza. E quanto mais interage com dados, melhor se torna. É um sistema que aprende continuamente, tornando a proteção cada vez mais eficiente”, diz.
Apesar do avanço, ele observa que algumas áreas ainda têm baixa maturidade tecnológica. “Setores como tesouraria, auditoria e planejamento de longo prazo ainda estão em estágios iniciais. Existe muito espaço para que a IA deixe os ambientes de teste e seja aplicada de forma prática e estratégica nessas frentes”, aponta.
Segundo ele, a adoção estratégica passa por um processo estruturado, que começa com organização de dados e avança com projetos-piloto bem definidos. “Aplicar IA sem uma base de dados bem estruturada é agir no escuro. O ideal é começar pequeno – escolher um processo com uma dor clara e impacto direto, testar e medir os resultados. E, claro, garantir desde o início a governança, com foco em segurança, ética e explicabilidade. Esses elementos não são complementares, mas sim fundamentais”, conclui Marcello.
Texto original: comunicapr.com