Varejo em crescimento em 2020: como a tecnologia pode ajudar o setor
Investimento em inovação para otimizar processos no varejo tem como foco principal transformar e personalizar a experiência do cliente
A crise econômica que abalou o Brasil nos últimos anos está perdendo a força, ao menos no varejo. A análise da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é de que o setor vem crescendo — fechou com crescimento de 2,3% em 2018 e deve atingir 4,6% em 2019 —, e a projeção é de que alcançará o patamar em que estava antes da crise já em fevereiro de 2020. No varejo ampliado — que envolve todos os setores — as vendas devem crescer em 5,3%, enquanto no varejo restrito — que exclui automóveis e materiais de construção —, o número deve chegar a 2,3%.
O setor do varejo ainda é um dos que menos utiliza tecnologia em seu dia a dia mas, para atingir o crescimento esperado e previsto, será essencial que as empresas se adequem a esta realidade, mesmo que aos poucos. Confira 6 dicas de especialistas sobre áreas em que você pode investir em 2020 para integrar essa onda de crescimento do setor.
Digitalização do pequeno e médio varejo
A maior parte dos profissionais do setor varejista relaciona inovação com tecnologia, e percebe este segundo ponto como algo muito distante da sua realidade, de difícil acesso e implementação em seu modelo de negócio. Por isso, em Santa Catarina, algumas entidades estão formando parcerias para melhorar o relacionamento desse público com seus clientes por meio de novas tecnologias, soluções e ferramentas, como é o caso da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Santa Catarina (FCDL) integrando o LinkLab, programa de inovação aberta da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE). “O micro, pequeno e médio varejista tem, sim, dificuldades para implementar essas inovações em seu dia a dia sozinho”, afirma Wanderlei Passold, integrante do comitê de inovação da FCDL. “Queremos auxiliar as mais de 44 mil empresas que representamos a se capacitarem para enfrentar os grandes players do mercado do varejo”, finaliza.
Inteligência Artificial no varejo
Dentro da lógica de funcionamento da execução, mix, disposição dos produtos e share são aspectos essenciais do varejo. Em geral, a medição do share é feita de forma manual pelos promotores de venda, utilizando fita métrica para calcular a participação das marcas no ponto de venda. Dependendo da quantidade de produtos e complexidade da categoria, esse processo pode tomar horas do promotor de vendas, ocupando um tempo que poderia ser utilizado em outras atividades. Com soluções de reconhecimento por imagem, como a da Involves, empresa que desenvolve soluções para gestão de trade marketing, os produtos podem ser fotografados na gôndola e a partir das imagens, a ferramenta reconhece os itens e gera informação inteligente. A solução permite a identificação da presença de produtos, ruptura, compliance de planogramas, mix e espaços ocupados por meio da leitura dos produtos nas prateleiras pela câmera do celular.
Múltiplos canais para vendas
Outra tendência que se apresenta com ainda mais força para 2020, e se conecta também com a experiência da loja física, é a estratégia omnichanel. As empresas precisam estar presentes nos diversos canais para melhorar o atendimento aos clientes, já que as experiências de compras digital e física estão cada vez mais próximas. Nesse contexto, é fundamental que os varejistas tenham parceiros logísticos e transportadores de confiança e flexíveis na implementação de novos serviços. “A logística é um ponto super importante para que as lojas consigam realizar o ship from store, quando a loja física também se transforma em um ponto de distribuição e o estoque local atende também os pedidos online, e o retira na loja. Assim, conseguem reaproveitar os estoques e também levar os clientes para dentro da loja física”, explica Ricardo Hoerde, CEO da Diálogo Logística, empresa especializada em entregas fracionadas para e-commerce.
Experiência completa – e visual – no e-commerce
O e-commerce é o novo shopping center, e assim como no ambiente físico, a ideia de proporcionar uma experiência completa para o consumidor ganha cada vez mais força no varejo virtual. Por isso, a adoção de ferramentas de realidade virtual e aumentada é uma tendência para 2020. Com elas, um cliente é capaz de visualizar e testar o produto antes comprá-lo. Há quem já chame isso de “visual commerce”, incluindo vídeos em 360º, configurações 2D e 3D, além de pesquisa visual na web (busca a partir de uma imagem, no lugar de uma palavra). “Quase dois terços dos brasileiros compram produtos online pelo menos uma vez por mês. Mas com cerca de 930 mil e-commerces no país disputando a atenção do consumidor digital, vence quem cativa com o que é novo e inusitado, como é o caso da realidade virtual e aumentada”, diz Robledo Ribeiro, fundador da HostGator – multinacional de hospedagem de sites e presença online – no Brasil.
Análise de dados para estratégias
A grande quantidade de dados coletados de clientes auxilia e molda as estratégias no varejo. “Mas, para isso ser efetivo, é preciso investir em soluções de Big Data que façam esta análise de forma inteligente, auxiliando no crescimento do negócio”, explica Adriano Kasburg, Gerente Comercial na Supero Tecnologia, empresa fornecedora de soluções em tecnologia da informação. Adriano destaca que as empresas que investirem em Data Science, a ciência dos dados, terão vantagem competitiva por diversos fatores, como a compreensão do funcionamento do mercado e novas demandas, projetando o direcionamento da concorrência. Outra vantagem é o aumento da produtividade da equipe, além de otimizar ações de marketing com a área comercial, gerando mais resultados. “Os dados coletados nas lojas virtuais auxiliam a empresa a entender características do cliente e podem ser úteis também para a loja física”, finaliza Adriano.
Automatização de processos
Para tornar cada vez mais completa a experiência do shopper, uma forte tendência para grandes varejistas em 2020 é investir na automatização de processos. “Com tecnologias assim é possível economizar recursos, pois uma inteligência artificial ou algum tipo de robô poderá operar as atividades”, explica Guilherme Verdasca, CEO da Transfeera, startup open banking. A empresa, que atende clientes como Unilever, Rappi e iFood, possui dois produtos: um de validação bancária, que checa automaticamente se a conta pertence a uma pessoa real e pode evitar fraudes; e o serviço de automatização de pagamentos, que permite que uma marca ou varejista realize pagamentos para diversos fornecedores, de maneira automática, sem precisar pagar taxas de transferências entre bancos.
Blockchain para mais segurança
Seguindo na linha de trazer mais segurança aos clientes, varejistas que lidam com transações financeiras devem investir em tecnologia para evitar fraudes e sair na frente da concorrência. O blockchain é uma das tecnologias que podem ser usadas para criar registros imutáveis de informações, agregando segurança e proteção aos dados dos clientes. “Com o blockchain é possível rastrear uma operação e identificar problemas, caso ocorram, de uma forma muito segura”, explica o fundador da BRy Tecnologia, Carlos Roberto De Rolt, empresa que atua há 18 anos na aplicação de protocolos criptográficos para tornar operações e negociações digitais mais seguras. De Rolt complementa que o blockchain não atende sozinho nem de forma automática todos os requisitos de segurança de uma aplicação. Por isso, uma pesquisa da BRy em conjunto com o Laboratório de Segurança em Computação (LabSEC) da UFSC busca unir as vantagens do blockchain à precisão do carimbo do tempo, tecnologia que registra precisamente data e hora da transação.