O futuro do trabalho colocado à prova, por Luiz Camargo*
Novas profissões exigem também novas habilidades para acompanhar a revolução digital
A automação cada vez mais frequente nas organizações, especialmente com a utilização da Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning, nos faz repensar o futuro do mercado de trabalho. Embora existam visões pessimistas sobre o aumento do desemprego com a utilização crescente dos robôs, há alguns especialistas que apostam na criação de novas profissões para atender as necessidades da Economia 4.0. Já se fala em cargos como analista de cyber cidade, analista de machine learning quântico, gerente de desenvolvimento de negócios de inteligência artificial, gerente de equipe homem-máquina e detetive de dados.
As mudanças podem ser positivas na medida em que estimulam a criatividade, além de liberar as pessoas de tarefas monótonas e repetitivas, que passarão a ser exercidas pelos robôs. Os novos empregos certamente irão demandar habilidades analíticas, matemáticas e digitais, com um toque de neurociência.
Com o incremento de soluções de Robotic Process Automation (RPA), novas funções serão desenvolvidas no próximo ano, como engenheiro, arquiteto e consultor de RPA. O objetivo é ajudar os funcionários a entender as melhores práticas de automação e como o RPA pode melhorar a eficiência dos fluxos de trabalho. Novos títulos como “Chief Robotics Officer” começarão a surgir, pois a tecnologia vem se tornando mais conhecida e atraente para o mercado, na medida em que garante mais agilidade e eficiência aos processos.
As empresas também serão mais seletivas sobre quais processos automatizar. Muitos projetos falharam em 2018 porque foram conduzidos de maneira equivocada, ou seja, nem sempre a área ou os processos incluídos nos projetos de investimento em digitalização e automação possuíam as condições ideais de esforço versus geração de resultados. Essa redefinição estratégica de prioridades, focando a atenção em métricas objetivas como o número de usuários de um dado processo, tempo de execução e complexidade, viabilizará um maior o retorno sobre o investimento (ROI) e garantirá o êxito das organizações em suas iniciativas de transformação digital.
Uma vez que as organizações dominem a automação de tarefas simples, elas poderão incorporar tecnologias mais avançadas, como o OCR (Optical Character Recognition, ou reconhecimento ótico de caracteres), permitindo que mais elementos sobre os dados sejam interpretados por robôs autônomos.
A tecnologia revoluciona constantemente o mundo corporativo. Os benefícios da inteligência artificial já são percebidos na produtividade dos negócios e nas vantagens competitivas. E não estamos falando apenas dos chatbots, que já existem e são muito utilizados, mas, sim, de projetos mais robustos com habilidades cognitivas capazes de processar dados, otimizar processos, racionar, garantir precisão, corrigir erros e solucionar problemas. Na área da saúde, é possível ter diagnósticos mais precisos com a utilização de algoritmos e IA. No varejo, a tecnologia permite compreender melhor o perfil do consumidor e ajudar os fabricantes em seus processos logísticos. Tudo isso combinando redução de custos, inovação e segurança.
Segundo o Gartner, as tecnologias de IA estarão virtualmente em todos os lugares nos próximos dez anos. Embora essas tecnologias permitam que os primeiros usuários se adaptem a novas situações e resolvam problemas que não foram encontrados anteriormente, elas ainda não estão disponíveis para a maioria das pessoas. Movimentos como computação em nuvem e código aberto acabarão levando a tecnologia para as mãos de todos. A consultoria acredita que esta tendência será possibilitada por tecnologias como plataforma como serviço (PaaS), condução autônoma, robôs móveis e inteligentes, plataforma de conversão de IA, redes neurais profundas e veículos autônomos voadores.
A nova era, marcada por mudanças cada vez mais rápidas e ciclos de vida menores quando falamos em produtos e soluções, trará impactos significativos para o ecossistema de negócios, o que se refletirá também numa nova forma de se trabalhar. É fundamental que as lideranças se preparem para esta nova configuração de cargos e funções, que poderão surgir mais rapidamente do que imaginamos. Os investimentos em educação devem ser prioritários para que todos possam acompanhar essa nova onda que emerge como um tsunami e que colocará à prova o futuro do trabalho e das próprias organizações.
*Luiz Camargo é General Manager da Nice para o Brasil e Cone Sul