Preparem-se para muito ESG em 2021, por Marcus Nakagawa*
/ O começo de ano é sempre uma incógnita para todos. Muitos planejamentos de atividades, metas com números e orçamentos financeiros. Mas, este ano, em particular, o foco será um pouco diferente. É um período de muito cuidado e as pessoas anseiam pela recuperação econômica e social do Brasil e do mundo.
Para os planejadores e financistas de plantão, o trabalho de avaliar o macroambiente, o mercado e as variáveis incontroláveis nunca foram tão difíceis como agora. Para se ter uma ideia, no ano passado haveria um crescimento ou pelo menos uma melhor condição de produção e vendas. E para a nossa surpresa, um fator incontrolável e não orçado apareceu, causando um movimento nunca antes passado no nosso mundo globalizado.
Mas a ideia não é colocar aqui as imensas manobras que as empresas, executivos e empreendedores tiveram que fazer para sobreviver. Mas sim os “saberes” que tivemos para este ano trabalharmos com muito afinco.
Na temática do desenvolvimento sustentável houve um crescimento de empresas preocupadas em aprender sobre os inúmeros tópicos que compõe este tema. Segundo o Pacto Global Rede Brasil, a rede do nosso país comparado com as outras foi a que mais cresceu de signatários em 2020 para os “Dez Princípios do Pacto Global” chegando a 1.100 organizações.
Este movimento foi lançado em 2000 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O Pacto Global busca empresas que alinhem as suas estratégias de operações e desenvolvam ações que contribuam para a melhora dos desafios que compõe a sociedade. Os 10 princípios universais do Pacto que as empresas se comprometem estão nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Sendo hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo.
O ESG (Environmental, Social and Governance) ou ASG (Ambiental, Social e Governança), em português, ganhou destaque nos principais jornais e sites de notícias do país, colocando as questões Ambientais, Sociais e de Governança como um foco de atenção principalmente para os investidores. E este novo modelo mental de gerar valor começa a entrar nas estratégias de negócios das grandes empresas, pois os acionistas entenderam que estes conjuntos de indicadores precisam fazer parte das entregas, além da lucratividade. Os riscos associados a estas três letrinhas podem derrubar grandes empresas e esvaziar o valor da marca em alguns segundos nas bolsas, se não bem cuidado.
Muitos fundos com carteira de ações de empresas, que se preocupam com estes temas começaram a mostrar que não é só por “ajudar” o meio ambiente ou as pessoas, como alguns executivos classificam esta área pejorativamente, mas sim uma forma de ter mais controle, menos riscos e estar de acordo com a missão, visão e valores que ficam muito bem nas entradas de suas organizações.
A B3 anunciou a sua carteira ISE B3 no final do ano de 2020 e que começa a vigorar a partir de 4 de janeiro até o final do ano de 2021. Desde que foi criada em 2005, esta carteira mostrou uma rentabilidade de +294,73% contra +245,06% do Ibovespa. Nesta carteira só entram empresas que mostram os seus indicadores por meio de um questionário (e são auditados) que comporta 7 dimensões: Econômico–Financeiro, Geral, Ambiental, Governança Corporativa, Social, Mudança do Clima e Natureza do Produto.
Gerar valor não somente para os clientes, acionistas ou executivos, mas também para a sociedade em geral, para os funcionários e todos os outros públicos de relacionamento, os famosos e importantes stakeholders. No Fórum Econômico Mundial do ano passado, este novo movimento foi chamado de Economia ou Capitalismo dos Stakeholder.
Mas a jornada para trazer estes indicadores, que ficam muito bonitos em fotos, relatórios de sustentabilidade ou em projetos pontuais, ainda é longa. É preciso sair da teoria dos planejamentos e ir para a prática do dia a dia. Grandes bancos começam inclusive a colocar profissionais especialistas nestas temáticas em sua “bancada” de conselheiros na governança da empresa. Outros não estão mais financiando projetos e empresas que possam ter “problemas” com o ESG. Ou seja, o setor financeiro, que popularizou estas três letras para economizar os termos sustentabilidade corporativa ou desenvolvimento sustentável, está tentando mostrar que se adapta para esta nova realidade.
E a sua empresa, também já está se preparando neste ano para a grande jornada das temáticas do ESG?
Marcus Nakagawa é professor da ESPM, coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS) e idealizador e conselheiro da Abraps;