Por que o Metaverso não decola? Por Rodrigo Cardoso*
Nos dias de hoje, é natural as pessoas indagarem o porquê de determinada tecnologia ainda não ter se consolidado nos horizontes da vida profissional e social. O Metaverso é uma delas.
A promessa de materializar o paralelismo da realidade expandida no dia a dia está começando a se desgastar. Com exceção dos alienados tecnológicos, que acreditam cegamente na transformação tecnológica do mundo num piscar de olhos, os mais realistas não apostam mais as suas fichas no Metaverso.
E a probabilidade de que eles estejam certos é muito grande, pois apesar das pesquisas e mesas redondas apresentarem hipóteses de diversos especialistas sobre um mundo paralelo ao nosso, é ainda muito difícil tornar claro e tangível o Metaverso na sociedade como um todo. Eis alguns argumentos críveis de fundamentação científica.
A tecnologia no Metaverso exige sofisticação, ou seja, o hardware e o software deverão ser capazes de suportar a interação em tempo real entre os avatares e o ambiente virtual, isso para tornar a experiência do usuário mais imersiva e realista, sem mencionar a possibilidade da interação entre ambientes virtuais de diferentes plataformas e a adoção de inteligência artificial.
A segurança cibernética também é um tema importante, já que no Metaverso há riscos com relação aos dados pessoais e quaisquer ativos digitais transacionados nele, inclusive, no uso de moedas digitais e NTFs, serviços de tecnologias com baixa credibilidade também.
A Internet é um ambiente global e acessível a todos. O Metaverso poderá ser igual? É bem provável que não, pois o acesso à Internet e outras tecnologias têm um custo muito alto, tornando-o difícil em alguns países. Logo, sendo ele uma plataforma de aplicação na Internet, a possibilidade de exclusão é enorme.
O Metaverso e os avatares no ambiente político e regulatório deverão respeitar as leis nacionais e as regras internas da empresa responsável. Parece óbvio, mas a liberdade de expressão e de pensamento nunca estiveram tão enfraquecidas em tempos contemporâneos. No Metaverso seria diferente?
Por fim, a jogada de marketing da empresa Meta. Apesar da empresa Facebook ainda ser uma das mais lucrativas do mundo — postagens de três bilhões de pessoas e anúncios das mais diversas marcas –, a Meta fez uma aposta “no escuro” de 100 bilhões de dólares no Metaverso. Ou seja, o CEO Mark Zuckerberg investiu em algo que ninguém ainda sabe direito o que é, nem mesmo a Meta. Além disso, a empresa sequer disse qual seria o modelo de negócios aplicado ao empreendimento, tornando a proposta desvantajosa.
Os indicadores de insucesso não param por aqui. A Meta, em novembro de 2022, apresenta o Galactica, um bot de aprendizagem de máquina parecido com o ChatGPT, da OpenAI. Um fracasso total, uma vez que os erros foram tantos que a plataforma foi retirada três dias depois da web. Ou seja, a possibilidade de unir as duas tecnologias também foi por água abaixo.
É mais do que óbvio que as ideias da Meta e, consequentemente, do Metaverso não são confortáveis. Ainda há muita dúvida do papel transformador da tecnologia. Contudo, há quem aposte no seu sucesso.
*Rodrigo Cardoso é Professor Doutor da Faculdade de Computação e Informática (FCI) na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Assessor Especialista no NIC.br e CGI.br, Doutor em Ciência da Computação e Mestre em Direito Internacional e Membro da Internet Society e da Associação Brasileira de Estudos de Defesa