Empresas recorrem a modelo flexível para reduzir funcionários em trabalho presencial
Com unidades em SP, MG e Portugal, Eureka quer expandir na retomada pós pandemia e criar rede de escritórios fora dos grandes centros, oferecendo espaço de “home office” para quem não consegue trabalhar em casa
Depois de quase 100 dias fechadas pelas restrições da quarentena, as unidades da Eureka coworking nas cidades de São Paulo, Campinas e Uberlândia voltaram a funcionar com medidas redobradas de segurança. Além de observar as restrições impostas pelas autoridades governamentais e sanitárias, como medição de temperatura na entrada e distância de 1,5 metro entre as pessoas, a Eureka elaborou um protocolo único de segurança para a reabertura no último dia 15.
“Pesquisamos as melhores práticas mundiais e nos reunimos com mais de 100 coworkings do país para chegar ao modelo mais seguro”, diz Daniel Moral, sócio fundador da Eureka. Entre as medidas adotadas estão o uso de tapetes sanitizantes na entrada das unidades e a retirada de utensílios reutilizáveis, como canecas e copos.
O resultado nas primeiras semanas é bastante positivo. “A demanda está aumentando, há clientes novos chegando e regras como usar máscara são bem aceitas”, explica Moral, disposto a manter os planos de expansão da rede de coworking amparado nas medidas já testadas.
Mudança de mentalidade na crise da Covid-19
Desde 2017, a Eureka vinha ampliando sua rede de escritórios. Havia se instalado recentemente em Lisboa, Portugal, quando veio a pandemia. Apesar do baque inicial devido ao fechamento temporário, os sócios acreditam que o cenário atual é de fortalecimento do mercado de coworkings. “A pandemia trouxe medo e incerteza, mas mostrou às grandes empresas o trabalho flexível. Vivemos uma mudança cultural”, diz Moral. O potencial é enorme: pesquisa de junho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostra que o trabalho remoto é viável para quase 25% dos trabalhadores do país.
Para muita gente, porém, o home office e o sonho da jornada flexível se tornaram um pesadelo. Segundo levantamento do LinkedIn, em junho, 62% dos trabalhadores ouvidos ficaram mais estressados e ansiosos e 68% têm se dedicado ao emprego no mínimo 1 hora a mais todos os dias.
“Home office” para quem não pode trabalhar em casa
“Nem todos têm condições físicas e emocionais para fazer home office. Muitas pessoas precisam sair de casa para manter o equilíbrio mental”, afirma Moral. Além da falta de contato com os colegas, apontado nos dados do LinkedIn como um problema para 39% dos entrevistados, falta ainda infraestrutura. “A internet não é tão boa e em alguns lugares a própria rede elétrica não é estável.”
Para atender a esse público, a Eureka planeja formar uma rede de “hubs” em bairros distantes dos grandes centros ou em locais estratégicos. A ideia é que as empresas possam comprar posições compartilháveis entre todos os funcionários, o que já acontece em algumas estruturas do coworking. “A lógica é que possa haver um rodízio entre funcionários trabalhando remotamente e em diferentes horários, de modo híbrido e flexível, sem a necessidade de ter diversos escritórios”, explica Moral. É também uma maneira de as empresas garantirem um espaço de trabalho adequado, flexível e em conformidade com as normas trabalhistas e de saúde.
A CVC Corp, por exemplo, tem 150 postos na unidade Eureka da Av. Paulista, compartilháveis entre os seus milhares de funcionários. “A sede fica em Santo André, mas com a recente criação de sua área de produtos digitais, responsável por desenvolver inovações e aplicativos para marcas como CVC, Submarino Viagens e Almundo, a empresa inaugurou um hub na capital no início do ano”, diz Moral. “A companhia se torna ainda mais atrativa para novos talentos e melhora a mobilidade dos colaboradores de São Paulo; trabalhar perto de casa é qualidade de vida.”
A aposta dos sócios se justifica pela própria história da Eureka: criada em 2014, em casas da Chácara Klabin (SP).
“Queríamos oferecer uma alternativa aos empresários do bairro para evitar deslocamentos desnecessários, permitindo que continuassem trabalhando em um ambiente de escritório, mas perto de casa”, diz Fanny Moral, sócia da Eureka.
Para o casal de empreendedores, a fórmula do novo jeito de se trabalhar será flexível, alternada entre escritório e home office. “Este é um modelo ganha-ganha, pois a empresa gasta menos, o colaborador conquista qualidade de vida e o trânsito da cidade, assim como a poluição, diminui junto com os deslocamentos”, conclui Daniel Moral.