E se o seu rosto for a senha? Por Sílvia Andrade*
A limitação das senhas como forma de autenticar pessoas e barrar acessos indevidos está cada dia mais evidente. O fim das senhas já foi apontado como uma das tendências para o ano de 2022 pela MIT Technology Review, ancorado em tecnologias mais seguras e convenientes, como a biometria facial. Recentemente, mais um episódio jogou luz ao tema, quando a gigante do streaming Netflix passou a testar em alguns países a cobrança de taxa extra de quem quisesse compartilhar senha com pessoas que não residirem na mesma casa, o que vem gerando confusão, questionamentos e até cancelamentos de assinaturas.
Para dar a dimensão do problema: um relatório divulgado pelo jornal britânico Daily Mail afirma que a venda ilegal de senhas por marketplaces, somado ao compartilhamento de acesso entre os próprios usuários, já fez com que a empresa de entretenimento perdesse cerca de US$ 6.25 bilhões por ano.
Mas sistemas ineficientes de autenticação não causam prejuízos a apenas a uma empresa ou setor. Trata-se de um desafio que afeta diversos negócios e seus consumidores. Afinal, login e senha podem ser compartilhados e transferíveis (mesmo que de forma irregular), as falhas de segurança aos ataques de robôs exigem que as senhas cada vez sejam mais complexas (longas, com letras maiúsculas e minúsculas, com números e caracteres especiais), porém difíceis de serem lembradas.
As vulnerabilidades desse formato de autenticação estão tornando a experiência do usuário muito ruim. Segundo a quarta edição do relatório global Psicologia das Senhas do LastPass, cerca de 90% dos participantes disseram que têm até 50 contas online/de aplicativos. Para o consumidor, gravar diferentes senhas e ter a necessidade de constantemente alterá-las é algo tido como negativo. Quantas vezes você deixou de se autenticar ou precisou fazer resgate de senha e teve de acionar um outro fator de autenticação para redefini-las?
Do outro lado, com as empresas, vemos muitas vulnerabilidades também. O mesmo estudo do LastPass, afirma que 65% dos usuários reutilizam senhas em diversas contas online. O compartilhamento voluntário dos dados de login e senha, os próprios dados pessoais anotados em locais inseguros e que podem ser acessados e até senhas iguais utilizadas em sites distintos e que podem ser vazadas são alguns exemplos de comportamento comum, mas muito prejudicial. Tudo isso faz com que o mercado ilegal de dados pessoais ganhe força e os robôs cada vez mais sofisticados consigam assumir essas contas.
Hoje em dia, tudo pode ser mais seguro e prático. Empresas de tecnologia estão trabalhando constantemente para elevar a proteção de outras empresas e pessoas em um momento em que fraudes e golpes estão cada vez mais sofisticados. Interessante pensar como a adoção de tecnologias de forma massiva toma algum tempo, mesmo quando são soluções mais atuais e que apresentam maior segurança com uma menor fricção. Sistemas legados, falta de conhecimento sobre outros formatos e aversão ao risco podem ser algumas das causas.
A biometria facial é uma dessas possibilidades mais robustas de proteção. Ela já é a forma principal de autenticação de grandes marcas de celulares, por exemplo. A Apple foi pioneira em adotar essa solução e um grande caso de sucesso. A biometria é intransferível, não requer que o usuário se lembre de senhas, mas apenas apresente seu rosto, o que torna o processo muito mais difícil de ser fraudado.
De acordo com um relatório da Allied Market Research, a demanda global por sistemas de biometria facial deve movimentar mais de R$ 50 bilhões em 2022. Isso mostra como a tecnologia de reconhecimento facial vem ganhando espaço nas empresas, sobretudo devido aos custos mais acessíveis e ao aumento da precisão dos sistemas, fruto da integração com tecnologias como a Inteligência Artificial.
A biometria facial já possui diversas aplicações no nosso dia a dia e, conforme a tecnologia vai avançando, ela se torna ainda mais presente em nossa rotina e proteção. Assim como existem instituições financeiras que utilizam a leitura da impressão digital ou da palma das mãos, alguns segmentos da economia hoje realizam a liberação de operações por meio do reconhecimento facial. Pagamentos, saques, empréstimos e aberturas de contas, por exemplo, já podem ser feitos dessa forma.
A tecnologia vem sendo utilizada também em aeroportos e condomínios residenciais. Seja para a liberação dos viajantes nos totens eletrônicos de leitura de passaporte, seja para o monitoramento e segurança das pessoas que circulam nesses locais de alto fluxo. Ela é capaz de trazer mais segurança a diferentes tipos de operação e desponta como uma importante aliada em um cenário complexo, já que ajuda a proteger clientes, empresas e seus dados, além de criar sistemas de segurança mais robustos e confiáveis.
Além de ser uma camada mais segura, que dificulta o acesso ou uso de um serviço ou local por pessoas não autorizadas, a biometria facial tem se tornado cada vez mais acessível e disseminada. Eu sonho com o dia em que não terei mais de lembrar da última senha que tive de definir nem ter de fazer tantas vezes o processo de resgate de senha. E você?
*Sílvia Andrade é diretora de Parcerias na Unico