Afinal, o Metaverso é modismo ou uma realidade? Por Leonardo Souza* e Cristiano Silva*
/ Nos últimos anos o termo metaverso tem sido mencionado com frequência e seu desenvolvimento abraçado por grandes empresas. Contudo, pouco se fala sobre o que é efetivamente e quais suas implicações práticas em nossas vidas.
Em essência diz respeito a tecnologias que tentam replicar a realidade ou criar uma realidade alternativa através do uso de dispositivos e ambientes digitais, estes podendo ter diversas formas, desde jogos a salas de reuniões interativas. Dito isso, o termo não se refere a uma única tecnologia ou uma única empresa, e sim a ambientes virtuais que dispõem de um grau de imersão tão alto que conseguem replicar em parte, ou em sua totalidade (e além), as interações possíveis no mundo real.
Pode-se dizer que com a junção dos jogos eletrônicos e a internet temos o surgimento de milhares de metaversos, onde há a possibilidade de pessoas interagirem em uma realidade alternativa.
Em 2003 foi lançado o jogo Second Life, primeiro nesta linha, jogo esse que a proposta era ser uma realidade alternativa onde era possível ter muitos dos recursos e interações do mundo real em um ambiente virtual, inclusive ter um emprego e comprar imóveis virtuais. porém, sem as limitações do mundo real. Foi o primeiro grande case, tendo inclusive moeda própria.
Nesse cenário, muitas empresas investiram fortunas para manter espaços onde pudessem vender versões virtuais de seus produtos (Nike, Adidas, Amazon, Rebook, IBM) e durante alguns meses o Second life obteve sucesso com a sua proposta. Porém, após a adesão massiva inicial houve desinteresse por grande parte de seus usuários devido a uma série de problemas, entre eles erotização, preço dos itens e custo das customizações, visto que tudo era monetizado.
Quais são as implicações das implicações nos negócios e na vida das pessoas?
Antes de pensarmos nas implicações e as suas próprias implicações que essa tecnologia trará no futuro, é importante entender que o metaverso é uma tecnologia disruptiva, ou seja, ela pode vir a alterar e impactar toda a nossa sociedade, assim como a internet o fez anos atrás.
Segundo Peter Diamandis e seu framework The 6D’s of Disruption, em que se pode identificar em que ponto da disrupção o metaverso está, podemos analisar, conforme as imagens abaixo, que claramente essa tecnologia está na fase de Deceptive, ou seja, estamos em uma fase que as pessoas vão se frustrar, se decepcionar, pois é uma tecnologia que está evoluindo para se tornar exponencial e atingir seu ápice (Critical point). Ressaltamos que muitas expectativas estão sendo geradas, com grandes players inovadores entrando no jogo aumentando ainda mais o “hype” em torno da tecnologia, mesmo ainda estando em fase de experimentação, sendo aprimorada e buscando evoluir conforme os mais “Ds” da disrupção.
Por outro lado, o que podemos prever mediante observações e análises é que a nossa sociedade vai mudar de forma drástica como um todo em vários setores diferentes, tanto no aspecto social, evoluindo a relação humana e digital que serão integradas e escaladas em um novo contexto, assim como no meio corporativo, o qual vai impactar, mudar a forma de trabalhar e de gerar negócios. Ou seja, um novo jogo no mundo dos negócios.
Para o metaverso não existirá limites de atuação e a criatividade, será exponencial. Setores de serviços e entretenimentos como viagens, festas, shows, moda, marketing digital e outros, serão reinventados e escalados para além de fronteiras, com a entrega de uma experiência totalmente inovadora e jamais vista. Por exemplo, o esporte pode ser democratizado e inclusivo, gerando novas relações e possibilidades. Um outro exemplo bem interessante e impactante em nossa sociedade é o da saúde, pois como um mix de tecnologias com o IA, 5G, IOT e Edge computing, e o MXR, a qual é a realidade médica estendida com as tecnologias de realidade virtual, aumentada e estendida, irão proporcionar avanços no autocuidado, na relação médico e paciente com o apoio da telemedicina aplicada. Tudo isso ajudará no ganho de agilidade e assertividade que salvará vidas e mudará a forma de cuidar da saúde no mundo inteiro.
O que alguns gigantes já estão fazendo?
Alguns gigantes como Facebook/Meta, Microsoft, Nike, Disney e outros, já começaram essa jornada investindo bilhões de dólares em software e hardware para essa tecnologia. Eles acreditam que as relações sociais, as reuniões de trabalho, os e-commerces, os marketplaces e a indústria de entretenimento, tudo será diferente em um mix contínuo de uma nova realidade, com o digital, físico e o biológico se tornando um organismo único, integrado, imersivo e totalmente real. Portanto, isso pode resultar em uma evolução humana e digital, sendo necessário um novo mindset estratégico para as organizações, pois tudo que conhecemos pode mudar, assim como a internet transformou o mundo, conforme citado anteriormente.
No entanto, é importante observar conforme o gráfico abaixo da Lei da Difusão da Inovação, que esses grandes players além de serem os mais inovadores do planeta, eles estão experimentando e evoluindo o metaverso, isso nos mostra que ainda existe um longo caminho a percorrer até de fato isso se tornar real. Mas uma coisa é certa, o futuro é construído e preparado agora e isso é que as empresas inovadoras/futuristas fazem e por esse motivo são bilionárias, são as protagonistas dos negócios globais e ditam as novas regras dessa economia exponencial.
A regra de ouro que devemos ter muita atenção, e é comum a todos os negócios, é que independentemente da tecnologia, dos grandes players, da era exponencial e da disrupção, todos têm como oxigênio a inovação.
O que vem além?
Ainda há grandes incertezas com relação ao seu futuro, porém algo é certo, grandes empresas como Facebook/Meta, Microsoft, Google, Nvidia, Intel, Unity Technologies, Epic Games, entre outras, estão investindo para viabilizá-lo com a junção de uma série de outras tecnologias, com destaque para Blockchain, NFTs, Realidade Aumentada, Realidade Virtual e Wearables.
Atualmente, o acesso à internet é um desafio menor do que era há anos, entretanto, novos desafios apareceram. Recentemente, Quartz Raja Koduri, Vice-presidente da Intel, citou em um artigo que um metaverso com alto nível de imersão, necessitará de cerca de mil vezes mais capacidade computacional que a atual.
Nesse sentido, é importante citarmos e entendermos duas leis essenciais para o metaverso: a primeira é que, segundo a lei de Amara, nós tendenciamos a superestimar a tecnologia em um curto prazo e subestimar a longo prazo, ou seja, muitas pessoas e negócios irão se decepcionar nesses próximos meses e anos com ele, e por consequência, irão ignorar o mesmo. Contudo, a partir disso, entre 2 e 3 anos teremos um efeito exponencial, resultando na possibilidade futura dele se tornar uma realidade exponencial. Isso acontece pois de acordo com a outra lei, a Lei de Writgh de 1936, a qual nos ensina que o progresso vem a partir da experiência, isso quer dizer que conforme aprendemos e mais pessoas utilizam uma nova tecnologia ou qualquer coisa, mais se aprende com isso e assim aperfeiçoando, os custos de produção diminuem e então fica acessível para mais gente, tornando-se um fluxo contínuo.
Sendo assim, o grande recado aqui é que as organizações devem ficar alertas, façam follow-up contínuo e experimente, dedique um pouco de tempo, se envolva com o metaverso, sem grandes expectativas a não ser aprendizado nesse momento inicial, e logo mais, quando isso disruptar, esse tipo de organização vai conseguir ditar as regras do jogo. Dessa forma, o segredo é que as organizações devem ser ambidestras, executar e ao mesmo tempo inovar e explorando para não perderem a sua relevância.
*Cristiano Silva é Head de Arquitetura na AP Interactive
*Leonardo Souza é Gerente de Transformação Digital na AP Interactive