Liderança feminina: oportunidades e desafios no mercado de tecnologia, por Ingrid Imanishi*
/ O Dia Internacional da Mulher é um momento oportuno para pensarmos na presença feminina dentro das diversas áreas e posições no mercado de trabalho. Como mulher que atua em TI há mais de 20 anos, vi e vivi muitas coisas. No início éramos em menor número. Até hoje, em nosso País, por exemplo, não há uma presença proporcional de mulheres nas carreiras de exatas e no mercado de TI. Mas aos poucos essa realidade vai se modificando.
São muitas as questões a serem avaliadas quando se trata de paradigmas tão persistentes. Ainda assim, o que parece peculiar em um certo momento poderá se tornar usual em outro. Assim é a questão da participação da mulher no universo da tecnologia.
Se você der uma olhada na minha foto, vai perceber que eu não sou o que se chamaria da típica figura feminina brasileira, com meus traços orientais. Minha história profissional pessoal não me permitiu experimentar um prejuízo que pudesse ser associado ao meu gênero, mas quantas de nós podem dizer o mesmo? Seria também a minha etnia um atributo que me diferenciou? Poderia considerar isso como um tipo de pré-conceito? Se meu biotipo fosse diferente, teria enfrentado mais dificuldades enquanto mulher no trabalho? E no seu trabalho, como é a relação da sua empresa com as colaboradoras?
Trabalho em uma organização que me deu a oportunidade de chegar a uma posição de liderança. A Nice, inclusive, tem ações reais em escala mundial para estimular meninas a se interessarem por carreiras tecnológicas. Testemunhar essas ações práticas é realmente animador. Dentro da própria Nice e em outras companhias, mulheres vão chegando a cargos de chefia não apenas em TI, mas em outros setores como Operações, Marketing, RH etc. A ocupação desses espaços é extremamente relevante para a transformação das expectativas coletivas, reduzindo cada vez mais a sensação de surpresa com a liderança feminina. Acredito que todos concordamos em que o que deveria ser fator de sucesso profissional são atributos como talento e competência, descolados de conceitos como o gênero. E isso deve ser levado em consideração todos os dias, mas no dia 8 de março essa reflexão ganha força.
Ao pensar no aspecto profissional não podemos considerar que o trabalho é um ambiente descolado da vida familiar e social. A mulher é afetada pelas condições que pode ou não vir a ter para focar esforços no desenvolvimento de sua carreira. Muitas possuem diversas jornadas: profissional, mãe, esposa, dona de casa etc. Nos orgulhamos de ser “multitarefa”, porém é muito mais reconfortante quando temos a colaboração de nossos companheiros. Eu tive essa sorte e na minha casa as tarefas do lar e o cuidado com os filhos sempre foram divididos de maneira igualitária. Quantas têm a mesma sorte?
Ainda é raro vermos homens deixando de participar de uma reunião para levar um filho ao médico ou para cuidar dele em casa? Estranhamos quando isso acontece e esse também é um paradigma que deve ser trabalhado. No alto dos meus privilégios – estou ciente de tê-los –, desejo que todas as mulheres que levem dentro de si o desejo de serem profissionais bem-sucedidas tenham oportunidade para isso. Para que isso aconteça, é imprescindível que tenhamos o apoio de nossas redes de relações.
Já passou o tempo em que tecnologia era vista como um universo masculino. Muitas qualidades femininas são desejáveis no dia a dia do mercado de TI. Ainda mais em um momento de tantas transformações, em que o digital tem cada vez mais espaço e a área é um promissor campo de desenvolvimento profissional, um demandante voraz por diversidade de visões e competências. Creio que seja a hora e a vez das mulheres ocuparem mais espaços nas empresas.
Não tenho dúvidas de que todos têm a ganhar com a mudança. Tanto em questões de quantidade quanto de qualidade de cargos e remuneração equiparada, a presença feminina deve continuar se expandindo nas áreas de tecnologia e nas posições de liderança. E que o Dia Internacional da Mulher ainda continue despertando a todos para a prevenção e o combate às desigualdades de gênero, em toda a sociedade.
*Ingrid Imanishi é diretora de Soluções Avançadas da Nice