Varejo: Inteligência artificial revoluciona centros de distribuição e acelera as vendas, por Luis Arís*
Para o consumidor, o varejo é representando por uma loja física, o portal B2C ou o App do player de comércio. Para a empresa de varejo, no entanto, um elemento é crítico para o sucesso de seus negócios: o centro de distribuição de produtos. A gigante chinesa Shein, por exemplo, acaba de alugar um galpão de 135 mil m² na Grande São Paulo para implementar seu principal centro de distribuição no país. O Mercado Livre recentemente adicionou à sua infraestrutura 4 novos CDs, chegando a um total de 12 CDs em todo o Brasil. Em paralelo, a Amazon opera a todo vapor seu novo centro de distribuição com 100 mil m² – com isso, a empresa de Seattle conta com cinco CDs no Brasil.
A otimização desses ambientes é essencial para a rentabilidade e o crescimento de cada uma dessas empresas. É nesse contexto que se torna premente estudar o modelo do “Smart Warehouse”, em que recursos de inteligência artificial (IA) aceleram e aumentam a precisão de cada um dos processos executados no CD. A meta é automatizar o recebimento do produto, sua estocagem, sua retirada do estoque, seu empacotamento para transporte e, finalmente, a saída da mercadoria do CD. Cada uma dessas fases pode ser digitalizada com a ajuda de hardware como dispositivos IoT, IIoT e OT atuando em conjunto com drones e robôs. Por trás desses dispositivos estão aplicações Warehouse Management Systems (WMS), uma espécie de ERP que suporta todo o workflow do CD. De acordo com estudo publicado na Robotics Business Review em 2019, Smart Warehouses têm 76% a mais de chances de ter precisão em seu inventário de estoque, chegando a atingir marcas de 99% ou 100% de exatidão. Outra conquista de quem sai na frente na adoção deste modelo é ter 40% a mais de chance de despachar o pedido de um cliente no mesmo dia em que a compra foi feita.
A enorme massa de dados gerada por um ambiente totalmente digitalizado e automatizado precisa dos recursos de IA para ser consumida no ritmo dos negócios. Ainda assim, o uso de IA nos CDs está apenas começando. Segundo estudo de 2022 da consultoria norte-americana LogisticsIQ, apenas 11% das warehouses pesquisadas já contavam com automação baseada em IA e ML (machine learning). De acordo com pesquisa da consultoria irlandesa ResearchAndMarkets de 2021, o quadro é ainda mais desafiador: mais de 80% de todos os CDs do mundo não contam com nenhum tipo de automação. Isso inclui de CDs principais a pontos de entrega de produtos localizados próximos do local de consumo (last mile).
Esse contexto explica porque, segundo a relatório de 2023 da Mordor Intelligence, o mercado global de soluções de automação de warehouses irá crescer de US$ 22,15 bilhões em 2023 para 46,93 bilhões até 2028.
Dados corretos alimentam a solução de IA
A jornada em direção a CDs baseados em IA exige um cuidado especial com a infraestrutura digital que suporta essa aplicação. É crítico revisar todos os dados relacionados à saúde de cada rede, dispositivo digital e software desse “chão de fábrica” que é a warehouse. Essa é a base da visão gerada pela inteligência artificial. Se houver falhas na gestão da infraestrutura digital do CD, os dados da solução de gestão baseada em IA estarão errados e prejuízos e paradas podem acontecer.
Plataformas avançadas de monitoramento realizam medições precisas sobre a banda da rede, o status de cada esteira, empilhadeira, robô ou drone. A partir de uma abordagem multiprotocolo que reúne em uma única interface informações sobre o status de cada componente digital do CD, conquista-se uma visão preditiva de todo o ambiente. Isso é essencial para garantir a precisão das análises geradas pelo sistema de automação baseado em IA.
Infraestrutura com segmentos OT e TI
Mais e mais gigantes do varejo têm levado o estado da arte em soluções OT (operational technology, tecnologia operacional) para seus CDs. Hardware e software OT são usados para monitorar e controlar esses ambientes críticos, incluindo dispositivos especializados como PCs industriais, máquinas e veículos automatizados, além de sistemas SCADA e sistemas de controle distribuído. Vale destacar que controladores lógicos programáveis (CLP) são parte integrante da automação de um CD, comandando, por exemplo, ações automáticas de separação de produtos ou movimentação de esteiras transportadoras.
Em CDs modernos, a automação baseada em IA ou tradicional depende cada vez mais de redes de comunicação sem fio. É possível monitorar a própria infraestrutura de rede sem fio (como roteadores, switches, terminais e outros dispositivos) usando funcionalidades como SNMP ou APIs REST. Em todos os casos, o objetivo é aumentar a consistência da gestão automatizada do CD com ajuda de soluções multiprotocolo de monitoramento.
O conceito de “armazém” é milenar. No Egito antigo já existiam silos para armazenar grãos. No século XXI, o desafio é usar a inteligência artificial nas warehouses brasileiras para realizar uma gestão baseada em dados, qualquer que seja o tamanho do CD ou o volume de informações geradas. Se a IA é o “cérebro” do novo CD, a solução de monitoramento é o médico que toma o pulso do paciente e emite alertas de forma preditiva para evitar falhas. A meta é garantir a integridade dos dados por trás da revolução da IA no varejo.
*Luis Arís é Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Paessler LATAM.