Reinvenção, o principal ativo da pandemia, por Francisco Camargo*
/ Se podemos tirar uma lição da pandemia esta seria a reinvenção. Em um cenário em que o novo Coronavírus afetou enormemente toda a sociedade, com grandes mudança de hábitos pela população, com colaboradores trabalhando em casa, e com o mercado mudando bastante, as empresas precisaram se transformar e muito rapidamente. Nesse cenário, a dependência tecnológica se intensificou.
E, de fato, as empresas fornecedoras de produtos de TI, com suas ferramentas permitiram um verdadeiro salto no processo acelerado de Transformação Digital da Sociedade.
Com o tal do novo normal, desde pequenos comércios, que se digitalizaram para atender seus clientes pela internet e pelas redes sociais e garantir a entrega de seus produtos, até grandes empresas que, do dia para a noite, tiveram que manter seus colaboradores em casa e prover acesso seguro e infraestrutura para continuar seus negócios, se reinventaram. E assim a transformação digital foi acelerada de modo nunca antes visto.
Depois de um ano de pandemia e passada a fase de adaptação de empresas e da sociedade, o que vimos foram números crescentes da adoção de tecnologias como de cloud computing; infraestrutura de TI e soluções de segurança da informação e proteção de dados. Segundo o Relatório de Ameaças de Dados 2020, da Thales, feito pela IDC, 47% dos dados corporativos no Brasil estão na nuvem. Mas ainda estamos longe de uma genuína e completa transformação digital.
A segurança dos dados, por exemplo, tem ainda um caminho extenso a ser percorrido. O relatório da Thales aponta que apenas 53% dos dados na nuvem são criptografados e somente 41% têm tokenização. O que é mais alarmante é que 44% dos entrevistados disseram que suas organizações já sofreram algum tipo de violação.
Com a crise sanitária em nossos calcanhares, o home office deve perdurar por muito tempo ainda – e quando a pandemia arrefecer, provavelmente, deve se instaurar um modelo híbrido. O contato humanos com sua troca de experiencias, a linguagem corporal, fazem falta a qualquer organização, assim, este ano, podemos esperar a continuidade do aumento da demanda por soluções de segurança da informação, notadamente as de rede, como novos conceitos como Zero Trust, Inteligencia Artificial, Machine Learning, para se conseguir um rigoroso processo de verificação de identidade, um ambiente onde somente usuários e dispositivos autenticados e autorizados podem acessar aplicações e dados.
As empresas, com a LGPD com suas pesadas multas, administradas pela nova Autoridade Nacional de Proteção de Dados , não podem mais se dar ao luxo de serem invadidas e os criminosos vazarem seus dados.
A transformação digital precisa continuar. Além da migração para o Cloud computing, investimentos em infraestrutura e em segurança da informação e dos dados, a procura por soluções de inteligência artificial, aprendizado de máquina e analytics devem aumentar muito. Em um mundo dependente da internet e das redes, entender o comportamento de tudo – dispositivos, pessoas e sistemas – é crucial para a segurança. Essas tecnologias também empoderam as empresas que precisam enriquecer o relacionamento com os clientes e criar experiências digitais cada vez mais incríveis. E conhecê-los é o único caminho.
Com o novo normal, agora, nem tão novo assim, ainda há muitos desafios. Como se sabe, uma empresa não é feita apenas de tecnologias, o fator humano, um dos mais afetados com a crise de Covid-19, não acredita muito na preocupação dos seus empregadores com seu bem estar. Pesquisa do IBM Institute for Business Value mostra que há um abismo enorme entre o que os executivos pensam que estão oferecendo a seus funcionários e como esses funcionários percebem. De acordo com os resultados, 22% das pessoas foram dispensadas temporariamente ou demitidas permanentemente desde o início da pandemia.
Outro ponto abordado pelo estudo é que as prioridades corporativas de contenção de custos, acabam levando a maiores investimento em tecnologia e eventual redução dos recursos humanos. O IBM Institute diz ainda que o aumento da automação, a adoção de IA e o surgimento de outras atividades “sem contato” reduzem o número de pessoas necessárias para fazer o trabalho.
O que podemos pensar, diante do último ano, é que, sim, houve aceleração na transformação digital de todas as organizações, que reinventaram seus modelos de negócios, mas ainda é preciso conectar essas inovações às suas estratégias gerais para que avancem. E enxergar além da simples adoção de tecnologias, essenciais.
Da crise o que salta aos olhos é a nossa capacidade de se reinventar, nossa flexibilidade e nossa resiliência.
*Francisco Camargo é fundador e CEO da CLM e presidente do Conselho da ABES – Associação Brasileira de Empresas de Software