O próximo cliente da sua empresa talvez não tenha rosto e nem emoção, mas vai decidir tudo. Por, Alan Oliveira*
Que estamos à beira de uma mudança estrutural no funcionamento dos mercados, é algo que muitos já preveem, porém, poucos estão se dando conta do tamanho dessa transformação e se preparando para ela para manter seus negócios sustentáveis num futuro próximo.
Um estudo recente divulgado no arXiv introduz um conceito que parece ficção científica, mas já está se desenhando no horizonte: a economia agêntica. Um ecossistema em que transações comerciais ocorrem entre inteligências artificiais, sem qualquer intervenção humana.
De um lado, o consumidor é representado por seu assistente virtual. Do outro, empresas delegam seu front comercial a agentes autônomos. O diálogo é máquina com máquina. O acordo, firmado em milissegundos. Tudo em tempo real. Sem emoção. Sem cafezinho.
Essa realidade inverte a lógica que norteou o marketing e as vendas por décadas. De que adianta criar campanhas emotivas, se quem tomará a decisão final será um algoritmo frio, orientado por parâmetros racionais, metas específicas e inferências probabilísticas?
A disrupção é profunda. Se até hoje nosso maior desafio era entender o comportamento humano, agora precisamos decifrar como pensar como máquinas.
Imagine o cenário: o consumidor já não pesquisa, não compara, não escolhe. Seu agente digital faz isso por ele com precisão, com memória e sem viés emocional. Enquanto isso, os bots das empresas ofertam produtos sob medida, ajustam condições, respondem em segundos. A decisão de compra acontece sem que o humano sequer perceba.
Como, então, criar diferenciação? Como construir lealdade algorítmica?
A resposta exige um reposicionamento radical. A comunicação precisa ir além do emocional. É hora de estruturar metainformações sobre os produtos, investir em arquitetura semântica, garantir rastreabilidade, legibilidade computacional e recomendabilidade automática. O marketing se torna cada vez mais uma disciplina híbrida na qual dados, engenharia e linguagem natural caminham lado a lado.
Quem não entender isso, corre o risco de desaparecer, não da mente do consumidor, mas dos resultados da busca.
Vejo empresas ainda focadas em campanhas que emocionam, mas incapazes de alimentar os filtros dos assistentes digitais com as informações certas. Em um futuro no qual a atenção do consumidor será mediada por bots. O branding não será apenas sobre percepção, será sobre sintonia com sistemas autônomos.
A IA não apenas eliminará o atrito entre oferta e demanda. Ela redefinirá o próprio conceito de consumidor. O novo cliente não está mais nas redes sociais — ele está na nuvem.
O jogo não acabou, mas as regras mudaram. E a pergunta que deve ecoar em todo conselho de administração é: quem está escrevendo o código que vai decidir o seu futuro?

*Alan Oliveira é mentor de startups e especialista em gestão para o empreendedorismo, que fez parte da equipe de desenvolvimento da Contabilizei e Unico, duas das mais novas unicórnios do Brasil.