O que nem começou pode estar perto do fim? Afinal, o metaverso flopou? Por David de Oliveira Lemes*
Você já deve ter ouvido falar sobre o termo “flopou”, essa versão aportuguesada vamos assim dizer, quer dizer que algo não teve o resultado que era esperado, fracassou ou frustrou quem tinha grandes expectativas sobre algo. E é essa uma das perguntas e reflexões acerca do metaverso, será que ele realmente flopou?
Muito se especulou desse universo que une o real e o virtual no mesmo ambiente, grandes expectativas foram geradas e possibilidades inúmeras criadas para esse novo espaço. Mas jem novembro de 2022 um anúncio da empresa Meta preocupou quem fez grandes apostas no metaverso: a demissão de 11 mil funcionários, que segundo o próprio Mark Zuckerberg reflete em uma das mudanças mais difíceis na história da empresa.
A medida considerada impactante por especialistas reflete o resultado de dois trimestres seguidos de queda no faturamento da Meta.
Todas essas informações geram incertezas se o metaverso realmente vai emplacar e gerar números tão altos como se imaginava, e sim, até que tudo isso aconteça muitos “achismos” virão, mas também números vão consolidando o caminho que essa nova tecnologia deve seguir. Além disso, uma explicação lógica do que pode estar acontecendo com metaverso tem nome e outras tecnologias já passaram por esse cenário anteriormente: o que é chamado de “hype cycle”.
A empresa norte americana de pesquisa, consultoria e tecnologia da informação Gartner desenvolveu uma apresentação gráfica para representar a maturidade, adoção e aplicação social de tecnologias específicas e muito do que está acontecendo com o metaverso faz sentido teorizar nessa mesma linha.
Vamos nos aprofundar um pouco mais para entender o ciclo completo. De acordo com essa avaliação, mostra que a contradição entre o amplo sucesso e a frustração de uma nova tecnologia é normal. Quando apresentada, são gerados uma grande expectativa e um aumento de interesse, o que vimos acontecer bastante com o anúncio da empresa Meta sobre a criação do metaverso, por exemplo.
Essa grande expectativa ou chamado “pico de expectativas” traz junto dele avaliações superpositivas do impacto que a nova tecnologia trará, mas assim que atinge o ápice, isso passa rapidamente, é momento de ir para a segunda fase do ciclo chamada de “abismo da desilusão”.
No abismo da desilusão as pessoas já assimilaram a novidade e começam a ficar céticas sobre a nova tecnologia apresentada e até mesmo críticas às expectativas criadas. Aquelas tecnologias que passam por esse momento chegam à chamada “rampa de consolidação” e depois ao “platô da produtividade”, nessa hora é apresentado realmente o quanto de impacto a inovação pode trazer aos negócios e vida das pessoas.
Sendo assim, podemos pensar que o metaverso pode estar passando justamente por esse ciclo. Afinal, todos os holofotes foram para essa tecnologia “revolucionária” quando ela foi apresentada e ainda que nesse ambiente incerto, grandes companhias seguem investindo alto, como é o caso da Disney, que segue fazendo contratações com salários altíssimos para atuação na área de CMO — Chief Metaverse Officer. Para empresas como essas, o potencial é tanto que justifica o especialista.
Se por um lado grandes empresas seguem suas apostas altas, por outro a desconfiança ainda paira no ar. Um estudo da DappRadar sugeriu que duas plataformas reconhecidas no mundo metaverso, avaliadas em quase 1,3 bilhão de dólares, não estão conseguindo até o momento mais do que cem usuários ativos em 24 horas.
Falando em números para ilustrar mais esses exemplos explicitamente, a Decentraland, considerada uma das principais plataformas do metaverso que é avaliada em US$1,2 bilhão de dólares, teve apenas 38 usuários ativos em um período de 24 horas.
No mesmo levantamento da DappRadar foi apontado que a concorrente The Sandbox, teve pouco mais de 500 usuários ativos no mesmo período. Esses números são considerados pequenos e de pouco impacto.
Os dirigentes de ambas as empresas não ficaram muito felizes com as informações divulgadas e chegaram a contestar nas redes sociais os números apresentados pelo estudo. A explicação dada por eles é que, o relatório só leva em consideração usuários com endereços de carteira blockchain, isto é, que interagem dentro do sistema, não contabilizando aqueles que somente se logam para conversar.
Outra empresa que divulgou relatório preocupante sobre o futuro ainda incerto do metaverso foi a plataforma de dados on-chain Kaiko, que apontou que os tokens ligados ao metaverso apresentaram o menor volume histórico de negociações nas plataformas das exchanges centralizadas no último mês de setembro.
Por outro lado, como já foi dito, muitas empresas seguem investindo no metaverso e apostando alto, ainda frente a números tímidos que a nova tecnologia vem apresentando.
Diante do mundo de possibilidades que o metaverso traz em diferentes frentes de atuação e cenários, acredito que essa será uma tecnologia que irá em breve alcançar a rampa de consolidação e se adaptar às críticas, implementar melhorias para ser a gigante que todos esperam.
Assim como tudo novo que é apresentado é preciso também tempo, para lapidar, aperfeiçoar os detalhes antes que seja perceptível e possível usufruir de todo seu potencial. Já fiz essa comparação por aqui em outras conversas, com certeza não tínhamos a dimensão de quando surgiu a internet aonde chegaríamos, e talvez ninguém apostasse que ela fosse te tornar o que é hoje: indispensável em nossas vidas, acredito que o metaverso deva seguir o mesmo rumo, então por aqui fé no metaverso que ainda irá nos surpreender muito.
*David de Oliveira Lemes é coordenador do curso de Ciência da Computação da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)