O CIO do futuro assume papel mais estratégico e de maior protagonismo, aponta pesquisa da Deloitte
Em sua terceira edição, o estudo traz a evolução do papel do líder de tecnologia em face à inovação disruptiva dos negócios
Promover a fluência da tecnologia dentro das organizações, aumentar a sinergia da TI com as demais áreas e se tornar um cocriador de negócios são algumas das atribuições de um líder de tecnologia abordadas ao longo da CIO Survey, realizada pela Deloitte pelo terceiro ano consecutivo, que entrevistou 1.437 líderes de tecnologia de empresas no mundo todo, de 23 setores econômicos. Deste total, 124 são profissionais brasileiros. O estudo traz o cenário atual, oportunidades de transformação e mudanças pelas quais deve passar o líder de tecnologia para que sua função permaneça relevante.
Um dos fatores avaliados na pesquisa diz respeito à missão do CIO e aquela apontada como a principal, é unânime: transformar ou melhorar as operações dos negócios. Em seguida, os líderes de tecnologia ao redor do mundo consideram que impulsionar a receita e o resultado faz parte de sua missão, enquanto que os representantes nacionais veem a redução dos custos operacionais e/ou de produção como segunda missão mais importante de seu trabalho. Outro dado que chama a atenção no levantamento é que 40% dos respondentes lideram o desenvolvimento da estratégia digital, globalmente. Por sua vez, no recorte Brasil, apenas 26% estão à frente dessa estratégia.
“A pesquisa nos dá importantes insights e mostra que aqui no Brasil há ainda um longo caminho a percorrer, como o dado de que o CIO não lidera, na maior parte das empresas, a estratégia digital. Creio que, antes de tudo, exigirá uma mudança de cultura e um protagonismo maior do profissional, que deverá aliar seu conhecimento técnico a uma visão mais holística do negócio”, explica Fabio Pereira, sócio da área de Consultoria em Tecnologia e líder do programa de CIO.
Em relação à sinergia da área com as demais de uma organização, operações e finanças são as áreas com as quais os CIOs da amostra brasileira têm o relacionamento mais forte, registrando 72% e 66%, respectivamente. No entanto, o relacionamento com a área de riscos merece ser mais fortalecido entre os respondentes do Brasil (relacionamento forte para 47% dos respondentes) em comparação com a amostra global (71% consideram o relacionamento da TI com a área de riscos forte). Além disso, riscos de TI e segurança cibernética são significativamente menos abordadas em reunião do conselho entre os respondentes do Brasil (36%) do que entre a amostra global (53%).
No que diz respeito ao cerne da pesquisa – habilidades esperadas dos líderes de tecnologia e as evoluções pelas quais a área passará no futuro próximo – seis fatores devem funcionar como guias de próximos passos das organizações:
1. Cocriadores de negócios
Os CIOs desejam ir além de seu papel tradicional. É o que apontam 70% dos entrevistados na pesquisa global. De acordo com eles próprios, o CIO terá um papel mais importante no direcionamento digital nos próximos três anos. Ainda, o profissional de TI espera destinar uma parcela maior de seu tempo (dos 37% atuais para 72% idealmente) a se tornar um cocriador de negócios. No entanto, em menos da metade das empresas pesquisadas no Brasilas áreas de negócios e de TI possuem processos conjuntos de investimentos.
2. Força do capital humano em TI
Construir equipes de alto desempenho e entregar uma grande mudança organizacional estão entre as principais habilidades necessárias para o sucesso do CIO no futuro. Esse resultado indica que os CIOs esperam atuar de forma ainda mais abrangente e integrada com outras áreas para o fortalecimento da estratégia de negócios da organização.
3. Integração dos investimentos
No que tange aos investimentos para a área, apenas 38% indicaram ter processos de investimentos em TI bem definidos. Esse resultado indica que os CIOs têm a oportunidade de serem mais diligentes no estabelecimento da governança do investimento em tecnologia. E apesar dos desafios do cenário econômico brasileiro, 40% das chamadas empresas de vanguarda no Brasil esperam aumentar o seu orçamento destinado à inovação. No entanto, esse alto percentual não se reflete nas empresas mais tradicionais (21%), tampouco nas globais de vanguarda (26%) e comuns (18%).
4. Novo perfil para o líder de tecnologia
Para conduzir a transformação da área de TI e assumir um papel mais estratégico e integrado na organização, novas habilidades – como flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e criatividade tendem a ser as mais buscadas pelas lideranças nos próximos três anos. Isso indica um papel mais negociador e com foco nas habilidades pessoais para que o profissional de TI possa potencializar o ganho técnico advindo com os novos sistemas e processos.
Habilidades necessárias
Dentre as habilidades necessárias para o sucesso de um CIO, promover a fluência da tecnologia – a capacidade de entender amplamente e discutir com confiança os conceitos de TI – junto aos demais executivos e colaboradores da organização é fator-chave para ajudar a criar uma base de conhecimento compartilhada e otimizar o impacto da tecnologia.
“Por exemplo, os líderes empresariais que entendem os conceitos e benefícios fundamentais das soluções de tecnologia podem ter maior probabilidade de aprovar e obter recursos para conduzir essas iniciativas. Desenvolvedores, estrategistas, executivos de vendas e profissionais de marketing podem colaborar de forma mais eficaz em produtos e ferramentas do cliente”, avalia Pereira.
5. Modernizar para inovar
A modernização dos sistemas legados de Enterprise Resource Planning (ERP) para novas gerações é a principal área de foco em relação a plataformas corporativas entre as organizações entrevistadas no Brasil. Este foco na modernização dos ERPs existentes é importante para que as empresas possam obter agilidade para inovar e escalar. No entanto, os CIOs devem expandir seus esforços de modernização considerando iniciativas de digitalização de finanças, de redes de suprimento digital e de serviços globais do negócio.
6. Tecnologias emergentes
Uma constatação que a CIO Survey nos traz é que compreender tendências de mercado e disrupturas, usar cases de sucesso como referência e estabelecer parcerias são as principais expectativas na exploração de tecnologias novas e emergentes para os negócios”, ressalta o executivo.
Por exemplo: no Brasil, a adoção de tecnologias em nuvem é realizada com o propósito de reduzir custos (74%), enquanto que na amostra global a principal razão é o ganho de escala. Em 2016, 17% da amostra global apontaram foco em tecnologias emergentes e, em 2018, esse número cresceu para 40%.
“A conclusão a que chegamos é que o papel do diretor de tecnologia da informação está se expandindo para além de ser um defensor da tecnologia em si. À medida que as organizações se tornam cada vez mais digitais, o CIO precisará se tornar um parceiro que ajude a moldar os negócios”, finaliza o executivo.
Metodologia
Mais de 3.500 CIOs e de 300 CXOs de 71 países participaram da CIO Survey 2019, encerrando um ciclo de mais de 10 anos de publicações deste projeto, que virou uma trilogia a partir de 2015: Criando o Legado (2015), Travessia do Legado (2016-2017) e Manifestando o Legado (2018).
De forma geral, todos focaram nesta grande transição que o papel do CIO teve nos últimos cinco anos, permitindo uma grande reflexão sobre os profissionais que usam extensivamente a tecnologia, tais como CMOs, CDOs, CTOs, CIOs e outros. Durante este tempo, o CIO precisou entender e definir qual seria seu legado, como operá-lo e como evoluí-lo, sempre buscando entender sua posição no mercado, na empresa e em sua carreira, bem como suas habilidades e atuações.
Para a edição deste ano no Brasil, 75 líderes de tecnologia e 49 líderes de negócios revelaram o estado atual da função de CIO e o que será necessário para que a função se mantenha relevante nos próximos anos. Por sua vez, a amostra global contou com 1.116 líderes de tecnologia e 321 líderes de negócios. Ao todo, são 23 setores representados no estudo.
Mais informações sobre a CIO Survey em www.deloitte.com.br.