O caminho para 2021: tempos difíceis criam organizações mais resilientes, por Eduardo Missaka*
/ É inegável que 2020 foi um ano desafiador para os pequenos e médios negócios brasileiros. Apenas no primeiro semestre, o Brasil testemunhou o desaparecimento de mais de 716 mil pequenos negócios, categoria que corresponde a mais de 51% dos empregos formais em nosso país segundo dados do IBGE.
Diante desse cenário assustador, a pergunta que surge em conversas com gestores de empresas e empreendedores é inevitavelmente a seguinte: qual é o caminho para a criação de organizações mais resilientes para 2021?
Uma das respostas mais comuns que escuto é que a tecnologia seria uma espécie de panacéia que solucionaria todos os problemas das organizações no futuro, substituindo processos físicos por digitais (digitalização) ou mesmo reformulando empresas inteiras a partir do processo de transformação digital. Bastaria investir em tecnologia. Parece simples, não?
Embora o raciocínio esteja correto, acredito que faltam nessa resposta algumas considerações importantes.
Em primeiro lugar, a tecnologia por si só não deveria ser um fim e sim um meio. Não se investe em um novo projeto de software ou de digitalização simplesmente porque “é necessário” e existe um orçamento para isso. A forma de pensar mais adequeada seria que o investimento é preciso pois traz resiliência no modelo de negócio, atrai novos clientes ou melhora a experiência de stakeholders internos e externos. Não é coincidência, inclusive, que esses pontos são os mesmos citados pelo artigo “Digital Transformation: a Roadmap for Billion-Dollar Organizations” da Capgemini e do MIT como base para uma transformação digital de sucesso.
O processo de utilizar a tecnologia para melhorar a operação do seu negócio também não surge da noite para o dia. Cases de sucesso são frutos de estratégias pensadas a longo prazo para antecipar problemas antes deles surgirem e aproveitar oportunidades pouco exploradas no mercado. Pequenos negócios que já tinham uma estratégia e um bom fornecedor de tecnologia acabaram superando com maior facilidade os desafios e aproveitando melhor as possibilidades que surgiram da COVID19.
Ainda no assunto de prevenir crises, outro ponto particularmente importante e, em geral, pouco citado é a capacidade de uma equipe em lidar com mudanças vindas do ambiente externo ao negócio. Em tom quase profético, os autores que trabalham com a ideia de um mundo cada vez mais “VUCA” (volátil, incerto, complexo e ambíguo) tiveram todas as suas teses confirmadas de uma só vez com a chegada da pandemia. Projetos que originalmente teriam meses de duração precisaram ser implementados em dias, e processos que funcionavam bem há anos tornaram-se obsoletos de repente. Um cenário difícil para o qual nenhuma organização estava plenamente preparada, mas que algumas equipes souberam contornar com sua flexibilidade e agilidade.
Infelizmente ainda teremos um longo caminho até superarmos os efeitos econômicos e sociais advindos dessa pandemia. E mesmo que sejamos otimistas e que 2021 traga mais notícias sobre vacinas, tratamentos e melhoras na economia não há como saber quando surgirá a próxima crise. Por isso, acredito que vale a reflexão: sua organização já está preparada para o próximo desafio?
*Eduardo Missaka é CEO da Espresso Labs