O papel das adtechs na promoção da presença feminina na tecnologia, por Fernanda Acácio*
A presença feminina no campo da tecnologia, especialmente nas adtechs (voltadas ao mercado de publicidade), é um aspecto crucial não apenas para promover a igualdade de gênero, mas também para impulsionar a inovação e o progresso no setor. No entanto, apesar dos esforços e do progresso significativo alcançado, o cenário ainda é desafiador.
De acordo com informações do Caged, apenas 12,3% dos cargos de TI no Brasil são ocupados por mulheres, e em áreas específicas como full-stack, infraestrutura e back-end, a presença feminina é ainda mais escassa. Além disso, um estudo recente realizado pelo movimento SeeHer e pela Ipsos revelou que, embora as mulheres estejam presentes em 88% das campanhas publicitárias, sua representação é frequentemente limitada a papéis estereotipados, como esposas, mães e avós.
No âmbito corporativo, segundo dados da Mckinsey, as empresas de tecnologia com mais mulheres em cargos seniores e gerenciais têm 15% mais chances de obter melhores resultados e obter benefícios financeiros significativos, como altas taxas de ROI. Ainda de acordo com dados da consultoria, ter equipes executivas mais diversificadas aumenta em mais de 33% as chances de alcançar desempenho superior no negócio.
Esses dados são um reflexo de um problema mais amplo de desigualdade de gênero em diversas indústrias. A baixa presença de mulheres em cargos de liderança e técnicos nesses setores não é apenas uma questão de justiça social, mas também tem implicações significativas no desenvolvimento de produtos, na tomada de decisões, na forma como a tecnologia é aplicada e na atração de jovens para a próxima geração de mulheres na carreira de tecnologia.
Uma das principais razões para essa falta de diversidade é a persistência de estereótipos de gênero e preconceitos dentro da indústria em geral. Desde cedo, meninas e jovens mulheres não são encorajadas a explorar carreiras em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), o que limita seu interesse e suas oportunidades no campo da tecnologia. Além disso, a falta de modelos femininos de sucesso na indústria pode fazer com que as mulheres se sintam desencorajadas ou desvalorizadas em um ambiente dominado por homens.
Para abordar esse problema, a educação desempenha um papel fundamental e precisa estar alinhada a iniciativas governamentais, de empresas e de ONGs para tornar o contato com as áreas de TI mais acessível e abrangente. Ampliar a presença feminina em áreas predominantemente masculinas empodera as mulheres a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades.
Nas adtechs, é essencial implementar iniciativas que promovam uma maior inclusão e equidade de gênero. Isso inclui programas de recrutamento e treinamento direcionados a jovens mulheres, para inspirá-las e capacitá-las a seguir carreiras em tecnologia. Além disso, é importante criar ambientes de trabalho acolhedores e inclusivos, onde elas se sintam valorizadas e apoiadas em seus papéis.
Essas empresas também podem se beneficiar ao adotar políticas e práticas que promovam a diversidade e a inclusão em todos os níveis, pois a diversidade ajuda a garantir que as criações publicitárias sejam moldadas considerando as necessidades de todos os gêneros.
Para isso, é importante incluir a implementação de programas de desenvolvimento profissional para mulheres, trabalhar na criação de comitês focados na promoção da igualdade de gênero e adotar políticas de recrutamento que visem ativamente atrair talentos femininos.
Ao reconhecer e valorizar a contribuição das mulheres no setor de TI, as adtechs não apenas fortalecem sua própria capacidade de inovação e sucesso, mas também promovem o desenvolvimento de campanhas mais inclusivas. A participação feminina é uma fonte de força e vitalidade para a indústria e combater as barreiras que impedem as mulheres de alcançar seu pleno potencial no setor beneficia toda a sociedade.
*Fernanda Acácio é CEO da plataforma global de publicidade MGID.