Grande defensora do consumo têxtil consciente, Marcia Jorge fala sobre a revolução do metaverso na moda
Referência em styling de moda e campanhas editoriais fala sobre como ter avatares além dos nossos corpos físicos, traz uma ideia de liberdade fascinante na moda
Desde o primeiro momento em que ouvimos falar sobre metaverso, surgiram diversos questionamentos referente aos próximos passos da nova tendência tecnológica. Não é de hoje que a maneira como nos conectamos entre si e entre marcas, produtos e serviços, está sendo revolucionada à medida que espaços virtuais ganham cada vez mais espaço em nossas vidas. Por mais abstrato que seja, você já percebeu como a experiência de compra está cada vez mais imersiva e interligada ao digital? Marcia Jorge – stylist de moda, cool hunter e grande defensora do consumo consciente, comenta sobre a possibilidade da sustentabilidade através do metaverso no mundo da moda e quais impactos essa realidade gera.
O metaverso é uma camada de aproximação imersiva da vida digital entre o mundo físico e virtual. Daqui a um tempo, acredita-se que haverá uma complementaridade e uma integração tão simbiótica entre o físico e virtual que não será possível fazer distinção de tal. Mas afinal, o que é irreal? Segundo a profissional, “Depende do ponto de vista. A realidade não é apenas um conceito subjetivo, mas um conceito plástico, relativo e dinâmico, pois dependendo do contexto, o irreal pode se tornar real. Um grande exemplo é poder conversar com a central de atendimento do banco através de uma inteligência artificial.” explica Marcia. Sejamos sinceros: Quem nunca perdeu a paciência com o atendimento e quis xinga-lo como se fossem reais? Essa é uma observação de quanto o real e o irreal se misturam e se perdem atualmente.
Metaverso e moda: De que maneira se correlacionam?
O mundo está cheio de roupas, e o ser humano segue com sede de consumir. O consumo excessivo, fruto do modelo de produção fast-fashion (moda rápida), se torna cada vez mais nocivo ao meio ambiente. Poucos sabem, mas nosso lixo têxtil leva cerca de 200 anos para se desintegrar e isso gera muita preocupação.
O metaverso traz a possibilidade de, daqui a um tempo, ser possível testar combinações de roupas em seus próprios avatares através de guarda-roupas digitais. Isso fará com que não apenas contribuamos para um consumo mais consciente, mas economizemos tempo e como o famoso ditado diz: Time is money (Tempo é dinheiro). Literalmente está se abrindo um novo mundo de possibilidades para serem conhecidas, aprendidas e exploradas.
Apesar de parecer uma ideia longe de ser colocada em prática, em 2019, a Louis Vuitton pegou carona do mundo dos gamers e criou uma coleção de skins – roupas virtuais para os avatares do jogo League of Legends. Na sequência, a Gucci criou um jardim virtual com uma riqueza ímpar de detalhes em que é possível não só passear, mas também fazer compras de produtos físicos e também virtuais. Além deles, Balenciaga, Tommy Hilfiger e Adidas também desenvolveram coleções inteiras para vestir avatares.
Em um mercado regido por desejos e aspirações como a moda, de que maneira essa tecnologia pode influenciar positivamente?
“A produção de uma roupa virtual emite 97% a menos de carbono que uma física, não consome água (estima-se que 2720 litros de água sejam necessários para a produção de 1 camiseta de algodão), nem mão de obra subvalorizada, coisa que vemos constantemente hoje em dia, principalmente nas grandes lojas de departamento”, finaliza a profissional.
Essa pode ser uma linha de raciocínio para pensar sobre como dar vazão à sede de consumo, especialmente para a geração Z, que notadamente é uma geração mais atenta a questões de sustentabilidade que todas as outras. Mas será que essa interseção entre o físico e o virtual não irá transformar também a maneira como desejamos as coisas? Segundo Marcia que é a favor da moda descomplicada, “As regras que regiam o vestir eram literalmente sufocantes. Crescemos ouvindo absurdos. Roupa de menino, roupa de menina, roupa de gente magra, roupa de gente gorda. A roupa como uma ameaça e a anatomia do corpo como um empecilho. Uma relação de altíssima toxicidade que com o tempo estamos conseguindo dar novos significados, mas ainda temos muito que caminhar”.
O que nos resta é aguardar os próximos capítulos.