Enquanto a tecnologia evolui, colaboradores e empresas buscam se adaptar às novas demandas do mercado, por Cristovão Wanderley*
Quem gosta de tecnologia e acompanha a inovação fica impressionado ao ver como a nossa relação com o trabalho mudou ao longo dos anos. Nos últimos tempos, essa virada de chave ficou ainda mais evidente, principalmente depois da popularização das soluções com base em inteligência artificial. Só que as novas demandas vão muito além do uso de novas ferramentas.
A procura por líderes com habilidades socioemocionais, a visão inteligente sobre os dados e a busca por colaboradores estrangeiros que vivem em outro país estão aumentando e mudando a maneira como as empresas estruturam suas equipes.
O que esperar dessa mudança no futuro? Como dizem, essa é a resposta à pergunta de 1 milhão de dólares, mas como ainda não é possível saber o que vem pela frente, é melhor nos prepararmos com base nos sinais com que nos deparamos no dia a dia, como os que apresento a seguir.
A concorrência internacional e a busca de empresas por profissionais que moram fora
É cada vez mais comum as empresas brasileiras perderem seus funcionários para companhias estrangeiras. Uma pesquisa obtida pelo Valor Econômico, realizada pela Think Work em parceria com a Atlas, mostrou que 54% das companhias do País viram seus colaboradores pedirem demissão para trabalhar em corporações de fora.
A questão é que o profissional segue vivendo no Brasil, mas atua de forma remota para essas companhias, recebendo o seu salário em moedas estrangeiras. Das empresas brasileiras que relataram receber esse tipo de pedido de demissão, 41% afirmam que isso acontece com alguma frequência e 7% disseram ser uma situação bastante comum.
Diante desse cenário, mais de 60% das empresas que responderam à pesquisa preveem problemas relacionados à falta de colaboradores ao longo do ano que vem. Então, o que fazer para reverter essa situação? Existem diferentes respostas para essa pergunta, mas, entre elas, acredito que o caminho é mudar o pensamento e a cultura do negócio, adaptando-se ao novo cenário.
Outra solução é também recorrer à contratação de profissionais de outros países. Além de conhecimento técnico, essa medida ainda pode contribuir para a transformação da cultura organizacional e impulsionar a estratégia de diversidade da companhia.
A inteligência artificial mudou o modus operandi em todo o mundo
Com os avanços tecnológicos acontecendo de forma exponencial em diferentes países, o ambiente de trabalho está passando por transformações constantes. Acredito que esse é um processo natural e, assim como as pessoas precisarão desenvolver habilidades para utilizar a ferramenta com eficiência e segurança, as empresas deverão encontrar meios de incorporar a tecnologia no seu dia a dia.
E elas buscam se adaptar de diferentes formas. Uma delas é a criação de áreas e cargos com foco em explorar o potencial e monitorar o uso de soluções com base em inteligência artificial. Inclusive, o relatório “Futuro do Trabalho 2023”, desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), em parceria com a Fundação Dom Cabral, com dados de 45 países, destaca o crescimento dessas profissões impulsionadas pela tecnologia.
A expectativa é que cerca de 23% dos empregos mudem até 2027, com 69 milhões de novos empregos criados e 83 milhões sendo extintos, como mostra o estudo. Ou seja, para encontrar o nosso lugar no mercado de trabalho, o aprendizado contínuo ou lifelong learning será essencial para qualquer profissional desenvolver habilidades para as demandas no futuro.
Novas ferramentas e novas necessidades exigem novas habilidades
No ritmo em que o mundo está mudando, atualizar as habilidades de trabalho é algo constante. O conceito de upskilling, que consiste em ensinar novas competências para que a pessoa obtenha melhores desempenhos, passou a ser cotidiano.
Da mesma forma que aumentaram as possibilidades de capacitação e especialização em temas ou valores, democratizando o acesso à informação, essa busca pelo conhecimento vai além da parte técnica, levando às chamadas hard skills, o que enfatiza a importância das habilidades humanas, conhecidas também como soft skills.
O relatório “Pearson Skills Outlook: Power Skills” relacionou cinco habilidades essenciais para os profissionais do futuro. São elas:
- Comunicação: saber expressar pensamentos e ideias com clareza, assim como ouvir, entender e responder às ideias das outras pessoas.
- Atendimento ao cliente: apresentar e prestar serviços aos clientes antes, durante e depois de uma compra.
- Liderança: habilidade de um indivíduo, grupo ou organização de “liderar”, influenciar ou guiar outros indivíduos, equipes ou organizações inteiras.
- Atenção aos detalhes: ser preciso e exato nas tarefas, com cuidado para perceber detalhes e garantir que todos os aspectos de um projeto sejam concluídos de forma efetiva.
- Colaboração: desenvolver relações de trabalho construtivas e cooperativas com outras pessoas.
Entre novas demandas, concorrências e ferramentas, quando a resiliência faz parte da cultura da companhia é mais fácil superar as adversidades que podem surgir no caminho da inovação. Não será uma tarefa simples, mas um bom planejamento e a estratégia certa podem transformar esse cenário desafiador em uma grande oportunidade de evoluir no mercado.
Em vez de virar as costas para o futuro, uma boa dica é procurar entendê-lo. Essa visão do que vem pela frente é a capacidade de se adaptar é o que mantém muitas empresas competitivas por anos em seus respectivos segmentos. Não deixe o bonde passar, tome-o e chegue mais longe, mais depressa.
*Cristovão Wanderley é especialista em tecnologia e dados e sócio-diretor da Stratlab