Mercado de trabalho e maternidade: é possível aliar
Sociedade impõe às mulheres papel de mãe, mas mercado deseja o contrário; pesquisas na área expõem preconceito no cenário
Segundo uma pesquisa divulgada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), feita com 247 mil mulheres, metade delas foi demitida depois da gravidez. O estudo detectou que as trabalhadoras que conseguem a licença-maternidade são desligadas pelos empregados em até 24 meses. Já um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que apenas 54,6% das mulheres de 25 a 49 anos com filhos de até 3 anos estão empregadas. As mulheres negras na mesma situação representam apenas 49,7%.
Por outro lado, homens com filhos pequenos estão mais empregados (89,2%) do que os homens que não têm filhos (83,4%), segundo dados do IBGE. Os dados contrastantes se explicam pelo preconceito e por uma cultura machista que persiste na sociedade e no mercado de trabalho. A sociedade ainda espera que o cuidado parental seja feito apenas pela mulher.
O preconceito se estende também para o trabalho em home office. Muitas pessoas não entendem a realidade da maternidade e acham que é mais leve para a mãe, quando na realidade o trabalho dobra, já que a mulher precisa maternar em tempo integral. Independentemente da situação, a mulher continuará sendo julgada.
Diante de todas as tentativas de retorno ao trabalho, enfrentar o preconceito e a vontade de estar na presença dos filhos, muitas mulheres, mesmo com todas as suposições, preferem fazer tudo de maneira remota. Desde tentar uma nova carreira com o empreendedorismo até melhorar o currículo e tentar um reposicionamento no mercado com estudos remotos, como um curso de ciência da computação EAD ou com workshops online.
Apesar desse cenário desanimador, muitas entidades não governamentais estão se movimentando para reverter esses dados. A conquista da ampliação do prazo da licença-maternidade foi uma bandeira levantada por algumas associações ao receber relatos de mães que tinham esse direito desrespeitado por muitas empresas.
Agora, a busca das entidades é impedir que mulheres sejam demitidas após a gestação. As instituições buscam diminuir essa ocorrência e construir um mercado de trabalho mais justo para as mulheres que decidem maternar.
Os sindicatos brasileiros precisam somar esforços em seus acordos coletivos e garantir que as trabalhadoras consigam pelo menos 90 dias de estabilidade após a licença-maternidade. Garantir esse tempo de estabilidade para as mulheres após o retorno da licença é essencial para que elas tenham a oportunidade de mostrar às empresas que continuam com sua capacidade produtiva, e é preciso que elas tenham oportunidades de alcançar cargos de gerência para construir um trabalho de mercado mais justo.